domingo, 31 de outubro de 2010

A escolha pela vida

Nos últimos dias, vivi experiências de doenças e de morte entre familiares e amigos, que me conduziram a momentos de introspecção e de reflexão. A minha formação religiosa, a minha fé e as minhas crenças me possibilitam lidar com o limiar entre a vida e a morte de uma forma mais sustentada. E, de maneira consciente, consigo acompanhar estas situações com a necessária capacidade de discernimento.
No entanto, diante destas circunstâncias, sou quase sempre impelida a ponderar a propósito das diferentes atitudes, que escolhemos adotar ao longo de nossas vidas, quanto ao cuidado pessoal. Talvez, em decorrência do meu esforço pessoal profícuo e já bastante antigo, em busca da permanente atenção sobre mim mesma.
E percebo que, muitas vezes, optamos pelo caminho das compulsões, quer seja por alimentos, bebidas alcoólicas, cigarro, e porque não dizer por sexo ou trabalho. Como se houvesse uma inesgotável necessidade de preenchimento. Como se a própria condição de estar vivo não fosse o bastante para manter-se pleno e, consequentemente, inteiro. Como se o enorme vazio interior se transformasse em um monstro predador, sempre à espreita, e ameaçador. E exigisse ser nutrido.
Em outra medida, preferimos nos abastecer de estímulos, por intermédio do uso de drogas, medicamentos, aparelhos eletrônicos, consumo, beleza estereotipada e entretenimento. Este padrão comportamental nos arremessa a um estado de excitação permanente. Capaz de nos manter literalmente ocupados, ligados e diretamente desvinculados de nossa vida interior, plena de conflitos, angústias, mas também de alegrias. Elementos verdadeiramente imprescindíveis para o nosso crescimento pessoal.
E o que dizer sobre as manias, neuroses, hipocondria e preocupações infundadas que nos paralisam e nos embotam. E fazem com que nos sintamos encurralados dentro de nossos cotidianos.
Para mim, deixamos de ser os autores de nossas próprias vidas ao adotarmos estas atitudes. Passamos a ser conduzidos pelo turbilhão de necessidades, as quais não foram geradas por nós, mas pelos outros. E estes podem ser vários, mas nunca nós mesmos.
E aí cabe uma opção. A escolha pela vida e não pela morte. Escolher a vida implica, para mim, um olhar amoroso, corajoso e desprendido por si mesmo. Entender como se organiza o meu corpo. Como reajo frente aos acontecimentos. Quais são as minhas dificuldades e limitações. E, sobretudo, quais são os meus talentos e como criar oportunidades para que eles possam emergir.

Um comentário:

  1. Oi, Li. Sinto em suas palavras uma intensa coragem por vivenciar de frente e de modo claro, consciente, um momento importante e significativo de sua vida. Dentro do que você colocou, escolher pela vida significa tomar as suas rédeas de uma forma que só você é capaz. No seu olhar amoroso há uma atitude compassiva, tranquila, aberta, para consigo mesma e para com o mundo, e ao mesmo tempo, a postura de ser responsável pelas suas escolhas. Há também uma confiança inviolável que diz "eu posso!" Algumas vezes conseguimos encontrar forças onde nem imaginávamos que elas pudessem existir ...

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