domingo, 28 de novembro de 2010

O desafio da singularidade


Descobrir a origem primitiva de uma palavra...
Como pode ser um feito especial. E, a partir de um primeiro significado, buscar retomar o percurso que o vocábulo perpetrou ao longo do tempo e de sua história. A palavra pode ter se originado em outra cultura ou civilização e, sorrateira ou abruptamente, despertar em outro lugar, em um novo contexto e até sob um novo significado. Há que se levar em conta a intervenção do humano, que se apropria de um termo e lhe confere um determinado status. Há também que se observar o seu tempo de existência. Existem palavras que resistem ao tempo, mas à custa de uma mutação em seu sentido inicial. Há aquelas que, por serem fiéis à sua definição original, caem em desuso frente a uma avalanche de novas palavras que se sobrepõem por força dos apelos da mídia, da prevalência de novos modelos comportamentais, modismos e afins.
Li um artigo “O DNA da língua”, de Ruy Castro, na Folha de São Paulo de domingo, 28 de novembro de 2010, que me levou a fazer esta breve reflexão. O talentoso escritor nos sugere a leitura, de forma apreciativa (como se estivéssemos diante de um romance) de dois novos dicionários da língua portuguesa recém-lançados, um etimológico e outro de expressões populares. De antemão, já encomendei os meus exemplares, cativada pela rara oportunidade de ampliar meus conhecimentos sobre as palavras, sob uma ótica investigativa (que pode vir a se aproximar de um tema “noir”), ou de acordo com uma visão arqueológica, antropológica, ou quem sabe até de uma forma mais fantasiosa, como se fosse um típico contos de fadas.
E continuo a ponderar sobre esta questão. Querer estudar a origem das palavras pode ser algo prazeroso e nos conduzir a um processo de aprofundamento sobre conteúdos relativos àquilo que se pretende expressar. Talvez o caminho seja o de transformar o uso da linguagem em uma real forma de autoexpressão, e não um simples ato mecânico de repetições de palavras e fórmulas desgastadas, porém aceitas e reconhecidas pelas pessoas, pelo grupo de convívio, pela sociedade. E vale dizer que acredito que a intenção, por trás desta nova ação frente ao discurso, à fala propriamente dita, deve, a meu ver, revelar uma singularidade, uma distinção muito pessoal. Isto significa buscar um sentido verdadeiro para aquilo que se pretende dizer, de forma cuidadosa, sem estereótipos, algo muito próprio e característico de cada um. E, em um tempo em que ser autêntico implica um desafio, vale a pena correr o risco de resgatar a sua essência, a sua própria origem etimológica.
Para quem se interessou pelo artigo de Ruy Castro e pelos dois livros, seguem as dicas:
Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de Antônio Geraldo da Cunha, Lexikon/Faperj.
Dicionário de Expressões Populares da Língua Portuguesa, de João Gomes da Silveira, WMF Martins Fontes.

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