domingo, 13 de março de 2011

Limiar da morte


No mês de fevereiro, fui literalmente lançada ao universo da morte e pude vivenciar com intensidade todas as suas particularidades. No período de três semanas, estive em três funerais, sendo o primeiro deles de uma irmã minha muito querida. Foi bastante difícil. Ela estava gravemente doente, há um pouco mais de um ano, porém, havia se recuperado razoavelmente. Então, de certa forma, fomos surpreendidos.
Pude perceber, ao longo dessas experiências, que pouco conheço sobre este limiar entre a vida e a morte. Muitas são as visões a respeito desta transição. Inúmeros são os questionamentos.
Hoje, fui ao crematório buscar as cinzas de minha irmã. Pode parecer mórbido para você. Ou talvez, de acordo com a sua crença, você julgue irrelevante a minha reflexão. Para mim, fui invadida por sentimentos múltiplos. Na verdade, desde o adoecimento dela, passei a me perguntar com mais freqüência sobre qual seria o verdadeiro sentido da vida. Qual o propósito de nascer, viver e morrer? Qual é o verdadeiro significado deste ciclo? Somos como as plantas? Somos parte de um plano pré-definido? Fazemos parte da História?
Ontem, vivi uma experiência que me causou um enorme estranhamento. Estive no velório de um bebê, que não chegou a nascer em nosso mundo físico. Ela faleceu no interior do ventre materno. Pode parecer contra a ordem natural das coisas. Ou talvez, não fosse necessário vir ao mundo terrestre para cumprir a sua missão. De fato, não sei dizer.
Apenas posso relatar que, ao retornar ao local do velório de minha irmã e ter de sair de lá com uma pequena sacola branca contendo os seus restos mortais, surgiu um grande silêncio dentro de mim. Como se eu pudesse acessar um espaço vazio do tamanho do universo. E eu precisasse preenchê-lo.