terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Filmes em janeiro


De volta a São Paulo, fiz uma pequena pausa nas leituras e resolvi por em dia meus conteúdos cinematográficos. E, de certa forma, busquei um equilíbrio: pude assistir a três programas infantis (afinal meu filho de 8 anos está em férias!); e também vi três filmes para adultos, sendo um em dvd, o qual não havia assistido em 2010.
Puder dar boas risadas em algumas poucas cenas de “As Viagens de Gulliver”, mas o filme é um tanto confuso e em determinados momentos pude julgá-lo até politicamente incorreto, se é que ainda posso usar este termo. A verdade é que se busca uma contemporização do livro clássico, porém muito embasada nos clichês norte-americanos. Então, perde-se o encanto do antigo tema juvenil.
Também assisti ao “Mundo Encantado de Gigi”. Nele há uma certa poesia e sua temática oriental, onde prevalecem as virtudes e a sabedoria, é muito cativante. Porém o filme não empolga.
Por outro lado, vibrei com o novo desenho dos estúdios Disney. O título original é Tangled (Entrelaçados), traduzido no Brasil como: “Enrolados”, um termo mais próximo do discurso coloquial. Simplesmente, adorei! Com muita graça e leveza, o desenho conta a história de Rapunzel, levando-se em conta toda a magia e os mistérios que identificam a jornada desta heroína até que ela vença os seus temores mais arraigados e possa transformar-se em uma mulher. Encantei-me com as simbologias das luzes e das mandalas do sol, elementos tão presentes nas trajetórias de vários que ousaram romper com situações pré-estabelecidas e lançaram-se em aventuras, em busca de si mesmos. Por tudo isto e muito mais, o filme é precioso e certamente imperdível.
Voltando-me para o universo da cinematografia adulta (tenho dúvidas às vezes se há esta separação), pude ver 72 Horas (“Thе Next Three Days”), um filme de ação potente, cujo intento é o de te colocar na pele do personagem principal: um homem extremamente desesperado, em busca de libertar a sua esposa, acusada de homicídio (você assistirá ao filme sem saber ao certo se ela era a culpada), utilizando-se de todos os recursos existentes. Tudo isto em apenas 72 horas. À sua maneira, ele também irá construir um caminho, fará escolhas, sem perder de vista o seu objetivo final. Impressionou-me, neste filme, acompanhar a profunda transformação pela qual passa o casal. E depois, mais distanciada do impacto da sequência de ações (o que é tremendamente emocionante no filme), indaguei sobre os impulsos mais primitivos existentes em nós mesmos, talvez adormecidos, ou aplacados. Quem sabe, em situações mais limítrofes possam vir à superfície...
Se você gosta de um bom thriller, não perca.
Também fui assistir, logo na estreia, ao novo longa-metragem de Clint Eastwood: “Além da Vida” (Hereafter). Já li vários artigos sobre o filme, que tem despertado o interesse de diferentes categorias. Isto se deve, para mim, principalmente em decorrência da qualidade dos trabalhos do renomado diretor versus o tema tão controverso: existe vida após a morte? A trama baseia-se em distintas histórias pessoais que para mim, inspirando-me no filme da Disney, poderiam estar “entrelaçadas”. Como de fato, acredito pessoalmente que façamos parte de uma grande rede. Não gostaria aqui de fazer um contraponto entre crenças religiosas, dogmas e teses científicas. Chamou minha atenção no filme o fato dos três personagens principais, respeitando-se as suas particularidades, estarem de alguma maneira em um momento de transição. Em um período, muitas vezes crucial em nossas vidas, em que precisamos verdadeiramente romper com os velhos costumes e hábitos, vivenciar uma grande pausa, um vazio, uma tragédia, algo insólito, ou aquilo que for necessário para então promover-se uma nova escolha. Que pode derivar em um novo caminho. E demandar significativos desafios. Esta é uma história de vida ou morte. Os personagens do filme vivenciam situações de proximidade com morte, não para aprender a “valorizar” a vida, mas para perceber, ao contrário, que estão mortos nesta existência. E de alguma forma, há que se buscar a ressurreição. Há que se resgatar a vida.
Não deixe de ver.

domingo, 9 de janeiro de 2011

O caminho de volta para casa


Ainda estou sob a influência dos momentos à beira-mar. E constato que fiquei ligeiramente enlevada e, desde então, estou sob a sua inspiração que tem me feito divagar sobre o tema que escrevo a seguir.
Em momentos de puro prazer, deleite ou entrega de qualquer natureza tem-se a sensação da verdadeira plenitude. É possível esvaziar a mente e deixar que a linguagem da alma prepondere.
Práticas como o yoga e a meditação também nos abrem esta porta para uma gama de percepções - ou a ausência delas – em que, por alguns instantes, é possível desligar-se do mundo externo e do outro e vislumbrar algo único, fugaz. No entanto, a sua ressonância e reverberação irão ecoar em você por muito tempo. Há que se buscar viver mais momentos como estes. “Pequenos samadhis”, diria um professor meu. Vale explicar que samadhi seria o sétimo e último passo do Ashtanga Yoga, e no qual o praticante alcançaria um estado de comunhão com algo maior, que o faria transcender a realidade aparente. Um estado de êxtase pleno e profundo.
Hoje, percebo o quanto deixar-se guiar pelos desígnios da alma pode nos transportar para além daquilo que imaginamos ser. Na verdade, seguir os ditames da alma é viver com leveza, serenidade, intensidade e plenitude a nossa verdadeira natureza. E ela é sábia, pura e conhece o caminho a ser seguido.
Há um pensador inglês que define meditação como o “caminho de volta para casa”. Ou seja, é este retorno para o interior, para o nosso íntimo, para a nossa morada mais profunda que devemos cultivar.
Para mim, sinto verdadeiramente que deter-me em um estado contemplativo, por um pequeno espaço de tempo, diante do mar pode me conduzir de volta para a minha verdadeira essência. Os caminhos são vários, mas chegaremos ao mesmo lugar.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Um reencontro



Passei alguns dias à beira-mar e voltei muito mais próxima de mim mesma. Escolhi uma região tranquila, sem badalações, lojas ou restaurantes da moda. Afinal, para mim, o mar é o mesmo em qualquer lugar do Brasil. O restante é dispensável.
De maneira simples e pura, a experiência me fez muito bem. Permaneci longos períodos diante da imensidão do mar, apreciando a infinitude da linha do horizonte. Vesti-me com simplicidade, andei descalça na areia, deixei o carro no estacionamento e fiz muitos passeios a pé. Percebo que estas são práticas pouco usuais nas metrópoles, mas que nos permitem "pequenos ensaios de liberdade". E, francamente, olhar para o céu e para o infinito em meio à aglomeração de prédios, carros e pessoas, nas grandes cidades, tornou-se uma tarefa praticamente impossível. O mais triste é que nos acostumamos a esta rotina, a este modo de vida que nos afasta da natureza, da vida mais simples. E nos aprisiona.
Li no jornal que nos dias que se sucederam ao Natal, as praias foram invadidas pelos "gadgets" recém-adquiridos. As pessoas não conseguiram se desligar de seus celulares e i-pads, em plena areia. Uma pena perder a oportunidade de interagir verdadeiramente com o mar, com o céu, com a areia e com todos os seus cheiros, sons, cores e sensações.
Nas noites, senti vontade de reler um livro que sempre me estimula positivamente. Chama-se O Labirinto da Felicidade, de Alex Rovira e Francesc Miralles. A obra é muito simpática e prazerosa de ler. Tem um "quê" de fábula contemporânea recheada de elementos clássicos dos livros de autoajuda. Mas tem um algo a mais. Adoro fazer a sua releitura, periodicamente. Sempre extraio dele novos aprendizados. E, é significativo perceber que estou sempre me esquecendo do final da história. Ou seja, por isto preciso sempre tê-lo à mão. Se você já tiver lido o livro irá entender o que estou dizendo.
Para mim, a narrativa das descobertas da personagem central, que se chama Ariadne, conduz você a um encontro ou a um reencontro consigo mesma. Parece um propósito audacioso. Mas não o é. É simples. Assim como é singelo o conteúdo do livro.
Que bom que o reencontro com o mar e com toda a sua magnitude e mistério, possibilitaram um resgate comigo mesma.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Um feminino dilacerado


Acredito que muitas vezes o nosso destino já esteja delineado há muito tempo. Tanto em decorrência de nossas ações pregressas (em vidas passadas, para aqueles que acreditam nesta possibilidade de existência), quanto a partir das trajetórias vividas ou não por nossos ancestrais.
Minha afirmação está embasada em experiências próprias e muito particulares, que fui colhendo ao longo da vida, a partir de meus aprendizados pessoais e por intermédio do contato e interface com os relatos e experimentos de outras pessoas.
Não pretendo aqui assegurar que o nosso amanhã seja inescrutável, imutável. E que sobre este exerceríamos pouca ou nenhuma influência. Na verdade, ao contrário, gostaria de sugerir uma análise, uma avaliação contínua sobre o quanto utilizamos o nosso poder pessoal, a nossa capacidade de ação para intervir em configurações previamente estabelecidas e ajustadas, e sobre as quais paira uma expectativa de adequação, conformação. Como se a manutenção de um padrão sustentasse o fio condutor de uma longa história que, de tempos em tempos, repete-se ou reafirma-se. E romper este ciclo pode significar a impermanência desta biografia e a sua provável morte.
Há que se pensar na outra possibilidade: a ruptura, a descontinuidade.
Toda esta reflexão pessoal foi suscitada após assistir a “Vidas que se cruzam” (The Burning Plain), de Guillermo Arriaga. O filme me colocou diante de histórias de profunda dor, desamparo, solidão e mutilações. Cicatrizes que foram perpetuadas por mulheres de diferentes gerações. Infelizmente, por não conseguirem se desvencilhar desta sina, mergulharam em uma espécie de feminino desfigurado e, por vezes, completamente dilacerado. Mulheres que fogem de si mesmas e por isto se desencontram e se tornam meros transeuntes na vida. Seguidoras de um script que não lhes pertence e cuja autoria perdeu-se em um passado longínquo.
O filme é belíssimo, apesar da temática muito árdua. Vale assistir e se permitir questionar sobre qual é o nosso papel no mundo. E qual é o caminho que queremos seguir. Ser autora, roteirista e intérprete de sua própria vida; ou viver para cumprir papéis que lhe foram outorgados por outrem.