quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Uma vida, uma mentira


Por que as pessoas insistem em repetir fórmulas e modelos plagiados de trajetórias de terceiros, sem nenhum significado subjetivo e, obviamente, descolados de sua própria vida pessoal? Falta de autoconfiança? Sentimento de menos-valia? Total desconhecimento de sua verdadeira natureza?
Ao elencar estas possibilidades, pude sentir e visualizar a figura de uma espiral, sem grandes platôs, ora se assemelhando a um tufão ora se configurando em uma queda de um precipício. Talvez sejam estas as emoções vividas por aquele que está ausente de si mesmo e sucumbido ao outro. Ora falta-lhe o ar, a respiração está mais curta, os níveis de estresse e ansiedade altíssimos. Como um furacão, destrói tudo a seu alcance. Ou então, por outro lado, sente-se deprimido, desfalecido, sem energia. Isolado, em silêncio e com vontade de dormir, apenas. Em queda livre.
Talvez por pura sincronicidade, estas questões estavam muito presentes, dentro de mim, quando fui assistir ao recente filme de Woody Allen: “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos”. Para alguns críticos e espectadores, o filme foi considerado um tanto melancólico, e, portanto “negativo”, por apresentar diferentes histórias que convergem para o mesmo núcleo: fracasso, tédio, desesperança, solidão, traição.
Eu, pessoalmente, gostei muito do longa-metragem pela oportunidade que Allen nos oferece de vivenciar as mentiras adotadas por cada personagem e as estratégias, por eles escolhidas, para a manutenção destas condutas. Instaura-se, assim, uma grande ilusão de estar vivo. Como se fosse um bando de espectros ambulantes, porém, voltados para as expectativas do outro e para o outro. E de forma bem humorada e até mesmo ácida (predicados típicos do cineasta), ao longo do filme os personagens podem trocar de atributos e experimentar o tão sonhado “outro lado”. E a conclusão a que cheguei é a de que ainda permanece a sensação de vazio, de incompletude.

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