Com a proximidade do término de um ano, em termos cronológicos, paira no ar uma atmosfera de "fechado para balanço".
Crio suposições acerca de toda a carga de pensamentos que se avolumam em torno de tudo aquilo que foi feito ou deixado de fazer. Os pesares, os arrependimentos e os esquecimentos. As conquistas, os ganhos e os progressos. As dúvidas, as inquietações e as perdas. Os experimentos, as inovações e as mudanças. Todo este pensar e refletir coletivos de alguma maneira, a meu ver, ganha um formato e se corporifica, tornando-se uma entidade também grupal, tamanha é a pressão do todo para que vibremos nesta direção. Explico-me melhor.
Recebemos mensagens originárias de diferentes remetentes: amigos, bancos, lojas etc. No entanto, os conteúdos muito se assemelham. Há uma tendência atual de minimizar os sofrimentos e as mazelas, que porventura tenham sido vivenciados, e sobrevalorizar as aquisições futuras. Depositando-se, assim, uma exagerada expectativa no amanhã. Como uma gangorra, ora somos convidados a fazer o "check list"do ano que se esvai; ora somos incitados a elaborar uma lista de projetos vindouros. E se conjecturarmos que todas as pessoas ao nosso redor também estejam sendo arrastadas por esta oscilação, perdemos a oportunidade de seguir o fluxo natural da vida, acabando por nos perder no mar da inquietação e dos desejos coletivos. Deixamos, talvez, de apreciar a beleza de uma flor disposta em um arranjo de uma mesa natalina. Acabamos por não estar atentos em uma conversa informal com um colega de trabalho em uma festa da empresa. Evitamos nos emocionar no último dia de aula de nosso filho. Renunciamos, enfim, a todas as chances de estarmos presentes e de viver cada instante de nossas vidas, já que as algemas do passado e a sedução do futuro parecem muito mais convidativas.
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