domingo, 3 de outubro de 2010

Fechar os olhos

Ontem, pude assistir em dvd ao filme Um Sonho Possível, estrelado por Sandra Bullock, obra que lhe concedeu o oscar de melhor atriz em 2010. Não tenho o interesse aqui de estabelecer uma discussão sobre o filme em si, tampouco sobre toda a cinematografia hollywoodiana que o ancora. De fato, o que mais me chamou atenção no filme diz respeito ao perfil psicológico e à história pessoal de vida do rapaz negro, cujo personagem foi representado pelo ator Quinton Aaron. O filme baseia-se em uma história verídica sobre o encontro entre uma família rica norte-americana de Memphis e um jovem adolescente negro, órfão de pai e cuja mãe era usuária de crack. Apesar de seu histórico familiar e de sua origem racial, o jovem é admitido em uma escola de classe média alta e frequentada predominantemente por brancos. Isto porque há um interesse explícito do treinador de futebol da escola em prepará-lo para compor a sua equipe, uma vez que o rapaz é muito alto e corpulento.


Inicia-se, então, o desenrolar da trama. Segundo as palavras do próprio treinador, espera-se que um menino que tenha vivido situações tão adversas como o abandono, privações e violência sinta a necessidade de extravasar uma potente raiva contida e, portanto, as partidas de futebol atuariam como um oportunidade para corporificá-las. Porém, não é o que acontece com Michael, ou "Big Mike", como é chamado no filme. Durante os momentos mais difíceis de sua vida, ele aprendeu com a sua mãe a "fechar os olhos" para se proteger e não presenciar cenas que pudessem feri-lo de alguma forma. Ele desenvolveu, assim, um elevado grau de autoproteção. O seu sucesso enquanto jogador de futebol somente surgirá quando ele usar este seu talento a seu favor. Vale a pena ver o filme e deter o seu olhar sobre esta particularidade. O título original do filme em inglês é "Blind Side", que poderia ser traduzido literalmente como Lado Cego. O que me sugere que Michael não se esquivou ou se escondeu de uma realidade cruel. Ele fechou os olhos para ela, o que felizmente lhe possibilitou não ser brutalmente ferido e, principalmente, tornou-se um ser amoroso e fraterno.

Um comentário:

  1. Olhar o oculto do feminino no contemporâneo, nos filmes, nos instiga a sairmos do lugar comum e buscar linguagens que nos revelam. Com os olhos fechados sentimos a realidade. Não é passividade. A pele no olhar nos coloca frente à dor, dentro do que nos é possível enfrentar. Parabéns. Chris

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